Ausência


Estala escura e crua a noite
E no céu as tênues estrelas
Passam devagar, límpidas:
Meus sentimentos em aloite

Recubro minha rubra visão
Das lembranças incólumes
De teu seios em acumes:
Meus sentidos em abrasão

As noites nunca mais foram
Tão quentes e claras sem ti
Embora a tenha, amança,
Em minhas lembranças,
E não a tenha mais aqui

É certo que a amei um dia,
Embora não a ame, hoje,
Faz-se clara sua presença
Em figura pitoresca e amena

E suas lembranças
Não me esquecem
Nem me aquecem
Nas vis andanças
Em noite de frio

E estala a noite
E a lua passa por mim.
Em noite de céu límpido
É certo que deixe
De amá-la. Um dia...

Os dias nunca mais emergiram
Cálidos, sem ti: Dissulfiram!
Embora tenha, hoje, minha vida,
Hoje a senti em minha memória,
A protuberância de sua ausência.

É clara e estúpida a noite
Que passa fria e solitária
Rabiscando meus versos.
Sem ti: memória e açoite.

E estala a manhã e o som do vento
Passa por mim em ruído sereno
Em zumbido noturno e frio
Em tênue e suave canção.

Já a amei um dia, enfim.
Porém, não a amo mais.
Embora a sua presença
Anil, negra, vil e serena
Ainda faça parte de mim.

Eu resolvi compor estes frios versos
Em olhar tinidor, deslocado e no vazio
Enquanto estala a noite estúpida sem ti
Crua, sem céu, sem estrela, sem brilho

Mesmos que sejam as últimas
Palavras nuas que te escreva,
E a derradeira dor qu'eu sinta
Eu enfim a esquecerei, mormente
E sei que não deixará a abstinência
De pesar, sutil, sufocando a mente,
Ao prurido gemido inconsciente,
O fato inconteste: sua ausência

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